
17.06.2010 - 10:53 Por Clara Viana
Antes do início do exame de Língua Portuguesa do 9º ano, os professores responsáveis pela realização das provas andaram pelas salas onde estas iam decorrer para chamar a atenção dos alunos que não podiam pôr a sua identificação no enunciado.
Esta é uma das regras antigas, mas que o Gabinete de Avaliação Educacional (Gave) entendeu que devia ser salientada ontem.
Tudo porque, contou ao PÚBLICO uma responsável de uma escola do Norte, no exame do 9º ano a composição proposta era uma carta. “Ora, faz parte da estrutura de uma carta a identificação”, lembra a mesma docente. Este problema já se tinha posto há um par de anos, também na prova do 9º ano. Desta vez, no enunciado, estava destacado a bold: “Não escrevas o teu nome, não indiques a tua localidade, nem qualquer outro elemento que te identifique”.
Mas de manhã – “será que têm medo que os alunos não saibam ler?” - chegou um e-mail do Gave a comunicar que era preciso ir às aulas chamar a atenção para o facto. E no fim, também por instrução do Gave, os secretariados de exame tiveram “de passar a pente fino cada prova para ver se constava alguma identificação”.
Na prova pedia-se aos estudantes para imaginarem que participaram “numa viagem por terras longínquas e pouco exploradas” e pedia-se depois que escrevessem uma carta “correcta e bem estruturada, com um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras” em que relatassem a uma pessoa amiga o que aconteceu durante a viagem. Acrescentava-se: “Respeita os aspectos formais da carta. Assina a carta com a expressão «Um amigo explorador» ou «Uma amiga exploradora».
“Não seria mais simples e sensato instruir os alunos para que imaginassem que eram o fulano de tal, com o emprego tal, que mora em tal sitio e que teriam que escrever uma carta assumindo essa identidade?”, questiona a docente ouvida pelo PÚBLICO, que justifica: “Assim não se identificariam a si mesmos e, também, não amputariam a carta de alguns elementos fnundamentais da sua estrutura (estrutura essa que deveria ser avaliada integralmente)”.