Em 1999 o design em Portugal era uma realidade firmada. Mas havia pouca reflexão, reduzido reconhecimento interno e escassa visibilidade internacional. A associação ExperimentaDesign surgiu nesse mesmo ano. Há ainda um longo caminho a percorrer, mas muito aconteceu desde então. A exposição Revolution 99/09, que se inaugura hoje, marcando o início da programação da ExperimentaDesign para o Palácio do Barão de Quintela, em Lisboa, tenta dar uma panorâmica, não exaustiva, de dez anos de design português.
(Miguel Manso)
Durante um ano, enquadrada numa parceria com o Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (Iade), a associação vai fazer a programação do espaço. "Sempre desejámos ter um espaço expositivo onde pudéssemos ter programação", disse ao P2 a presidente da Experimenta, Guta Moura Guedes. Durante um ano o palácio receberá exposições, masterclasses ou conferências, numa lógica de comunicação com o público que permitirá rentabilizar o que a associação foi acumulando ao longo destes anos, explica. Daí o simbolismo da primeira exposição ser uma retrospectiva de design gráfico e design de produto português.
"Estes dez últimos anos revolucionaram por completo a produção do design em Portugal", diz. "O que fazemos hoje está ao nível do que se faz internacionalmente e isso para um país que, há dez anos, não tinha tradição de design é muito bom."
Identidade global
No total são 420 peças, de cerca de 70 designers e estúdios, combinando duas vertentes distintas do design. No piso térreo há maioritariamente uma selecção de materiais impressos como cartazes, livros, revistasou outros materiais tipográficos. O design de produto, por sua vez, encontra-se exposto no piso térreo e no 1º piso, com objectos de diferentes tipologias, entre tableware (serviços de mesa, conjuntos de copos e talheres), materiais para escritório e peças de mobiliário e equipamento.
No século passado falava-se de identidade do design ligada a países ou zonas do globo. Hoje existem sintomas, tendências, linhas de continuidade partilhadas internacionalmente, mas não vale a pena procurar reconhecer especificidades regionais da mesma forma que no passado recente. Ou seja, não há um "design Portugal", defende Guta Moura Guedes: "No passado falava-se de design italiano ou nórdico, mas hoje isso desvaneceu-se. Não devemos perder tempo à procura dessa identidade. Há o espaço global e os nossos designers vingarão nele, se forem bons ou não."
Isso não significa que não se consigam identificar princípios comuns - "no design de produto há um olhar sobre o artesanal, a sustentabilidade, a tradição", acrescenta Moura Guedes - e especificidades, que se traduzem no resultado final, "porque a cultura e as tradições dos países são muito diferentes", conclui.
Na selecção dos trabalhos expostos privilegiou-se a "marca autoral" e o "carácter experimental", esclarece, tendo existido depois "um processo de diálogo com os criadores". No design de produto há diversidade de tipologias, de materiais, de escalas e de processos de desenvolvimento dos projectos.
Há peças únicas, como as malas pick-it de Susana António; edições limitadas, como o candeeiro de mesa T5 (1999, Protodesign), de José Viana, a mesa Drawing Table (2001), de Fernando Brízio, ou Low Lounge (2001, Alma Home), de Marco Sousa Santos; e peças destinadas a produção industrial, como a bandeja Pile (2001), de Miguel Vieira Baptista para a Authentics, e outras que se destacam pela distribuição e visibilidade, como as Bolas de Cristal de Rita Filipe para a Atlantis/Vista Alegre.
Música e design
No campo do design gráfico há diversidade de linguagens, formatos e contextos, entre cartazes, convites e brochuras, trabalhos realizados, em grande parte, para a indústria cultural. No campo do design editorial figuram, entre outras, as Revistas NADA (Manuel Granja, a partir de 2003) e LX-Metropole (Silva! designers) ou a colecção da editora Tinta da China, de Vera Tavares. A par de peças para grandes instituições culturais, como os cartazes de João Faria para o Teatro Nacional de S. João, surgem trabalhos para projectos musicais alternativos da autoria de CãoCeito, Filho Único ou Macintóxico.
A ligação entre a música e o design é, aliás, uma realidade bem visível na exposição. "Cerca de 30 por cento dos designers gráficos são também músicos e essa não é uma tendência só portuguesa", diz Moura Guedes, revelando que no último dia em que a exposição vai estar aberta ao público, a 4 de Setembro, vai ser dedicado ao "cruzamento entre design gráfico e música".
Para depois dessa data estão previstas outras exposições: uma com maquetas resultante de um concurso de pontes pedonais para a Segunda Circular em Lisboa e, em parceria com o Iade, uma selecção de design gráfico e de comunicação japonês.