
16.06.2010 - 08:46 Por Bárbara Wong
Desengane-se quem pensa que os enunciados dos exames nacionais são feitos em cima do joelho. No Gabinete de Avaliação Educacional (Gave) há um trabalho contínuo. Os exames do próximo ano começam a ser pensados quando os deste ano ainda estão a decorrer.
Está aberta a primeira época de exames do ano de 2009/2010 (Carlos Manuel Martins)
Está aberta a primeira época de exames do ano de 2009/2010. Cerca de 96 mil estão inscritos para o primeiro exame nacional de Língua Portuguesa (9.º ano) e quase 76 mil para o de Português do secundário, que decorre à tarde. Nas próximas semanas, os alunos do 9.º, 11.º e 12.º anos estão a ser avaliados, mas eles não são os únicos. Também as provas que são colocadas à sua frente são escrutinadas por professores, pais, associações científicas e pela sociedade em geral.
É por isso que estas provas começam a ser pensadas com um ano de antecedência, para evitar que haja erros. Mas "não há actividade humana com probabilidade de erro zero, claro que esse é o objectivo, e, quando o erro acontece, a equipa fica de rastos", confessa Hélder Sousa, director do Gave. No entanto, os erros têm sido poucos, congratula-se.
Tudo começa em Julho, nas instações do Gave, em Lisboa. As equipas dos professores para cada disciplina reúnem-se e começam a analisar os resultados dos exames realizados no mês anterior. Observam pergunta a pergunta, fazem uma análise "fina e detalhada sobre os problemas de aprendizagem identificados e também a nível da afinação dos critérios", revela Hélder Sousa, que em tempos também foi autor de provas.
Identidade desconhecida
O segredo que rodeia os exames começa aqui. Quem são os autores? São professores que permanecem na escola a leccionar, para que não percam o contacto com os alunos, os colegas e as matérias. As suas identidades são desconhecidas por questões de segurança, para que o seu trabalho não seja posto em causa. Já houve quem deixasse de ser autor porque um familiar ia prestar provas.
As equipas são constituídas por um coordenador e por dois a três docentes, os autores. São complementadas com dois a três consultores (professores do nível de ensino a que se destina a prova e que fazem uma auditoria pedagógica). Existem ainda auditores científicos, dois a quatro docentes do ensino superior.
O Gave tem ainda uma equipa de auditores que são especialistas em avaliação, responsável por dar formação aos autores quando estes chegam ao gabinete. "A selecção [dos autores] está centrada na relação interpares, são professores com referências", informa Hélder Sousa. Recapitulando, o período de concepção da prova começa com a reflexão sobre o passado, mas também preparando a "informação de exame", um documento que se repete todos os anos e que é disponibilizado durante o 1.º período, logo depois de as aulas começarem, aos professores para que os alunos conheçam os aspectos essenciais para, no final do ano lectivo, fazerem as provas.
A elaboração das provas acontece entre Novembro e Fevereiro. As equipas fazem dois enunciados, para a 1.ª e 2.ª chamadas, que são feitos em paralelo para garantir que há um equilíbrio entre os testes. Depois destes, as equipas trabalham as provas para os alunos com necessidades educativas especiais e ainda as de reserva - caso seja necesário substituir algum dos exames. Se não forem utilizadas em nenhuma circunstância anormal, estas serão as que os atletas de alta competição vão realizar.
Nove a 13 semanas
A partir daqui, os enunciados fazem várias idas e vindas. Depois de serem concebidos, é feita uma primeira revisão pelos consultores, depois pelos especialistas em avaliação que verificam se a prova está em conformidade com o programa. Depois, os testes são analisados pelos especialistas do ensino superior. É feita uma revisão linguística e, por fim, uma revisão gráfica.
São impressos pela editora do Ministério da Educação. A partir daqui o circuito é um segredo bem guardado, sabendo-se que chegam às escolas, sob escolta policial, em envelopes selados. Todo o processo de feitura das provas, "em condições normais", leva nove a dez semanas, mas pode chegar às 13, admite Hélder Sousa. "As equipas estão permanentemente a ser avaliadas", sublinha. Apesar disso há erros. O Gave reconhece que, nos últimos anos, houve pelo menos três, mas o número de alunos que pede reapreciação de provas é pouco significativo (três por cento).
E o trabalho não pára. Há grelhas de classificação para fazer e, depois dos exames feitos, há a linha de apoio aos professores correctores para gerir. Daqui a semanas, as equipas estarão a analisar os resultados e o ciclo voltará a repetir-se.