17.06.2010 - 08:52 Por Hugo Daniel Sousa e Luís Octávio Costa, Magaliesburg
Octávio Machado dispensaria o luso-brasileiro. "Só assim Queiroz pode recuperar a autoridade num balneário que não tem um líder".
Deco foi substituído aos 62 minutos do jogo com a Costa do Marfim
(Foto: Paulo Santos/ASF)Primeiro Nani, agora Deco e sempre um ziguezaguear de comentários pessoais - posteriormente desmentidos através da Internet - que levantam uma nuvem sobre a selecção portuguesa de futebol na África do Sul. Depois da lesão que era-e-não-era do jogador do Manchester United, ontem surgiu a segunda versão da reacção de Deco à sua substituição no jogo com a Costa do Marfim. "As minhas palavras foram proferidas a quente, e sem o melhor discernimento", disse ao site da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Nada satisfeito, Deco saiu do Nelson Mandela Bay a apontar o dedo a Carlos Queiroz. Pelo "jogo directo" praticado, pela estratégia na primeira parte, pela abordagem na segunda, pelo seu próprio posicionamento em campo ("pediu-me para abrir na direita, coisa que nunca fiz na minha carreira, pois não sou extremo...") e pela substituição ("... e depois tirou-me"). Ontem, voltou atrás. "Quero esclarecer que nunca tive e não tenho qualquer problema com o treinador e jamais foi minha intenção colocar em causa a liderança e as decisões do professor Carlos Queiroz", pode ler-se. "As minhas palavras foram proferidas a quente, e sem o melhor discernimento, pois o jogo tinha terminado há pouco e sentia-me profundamente frustrado por não ter ajudado a equipa a ganhar", acrescentou Deco, substituído aos 62" por Tiago.
Ouvido pelo PÚBLICO, José Couceiro critica a estratégia de comunicação da FPF. "Quem responde tem que estar preparado para as perguntas", diz o treinador. "A estratégia é desastrosa e não é de agora", completa Octávio Machado, cáustico em relação a uma série de pormenores que acompanham a comitiva dos "navegadores". A começar por aí. "O Queiroz reavivou os Adamastores e os velhos do Restelo", disse, referindo-se a detalhes do estágio na Covilhã, onde Hugo Almeida começou por dizer adeptos sim, assobios não. "Se tivessem ouvido as pessoas nessa altura..."
A "chantagem" não agradou a Octávio Machado, assim como todo o estágio onde a equipa "treinou o facilitismo, ganhou hábitos maus e pouco competitivos". "Quando se vai para uma competição exigente tem que se treinar a meter o pé. Não o contrário. O reflexo é o que se viu ontem [anteontem]. As lesões acontecem quando têm que acontecer. O Nani lesionou-se e não foi por meter o pé", prosseguiu Octávio Machado, que apelidou de "desastroso" esse caso específico.
O folhetim Deco "é o fim do mundo", comentou em conversa com o PÚBLICO. "Acaba com tudo, coloca em causa o treinador. O Deco não é um jovem, não é inexperiente, não foi a quente, sabe o que faz, não é ingénuo. Primeiro dá uma entrevista a dizer que não é português. Solução? Passaporte na mão e casa. Só assim Carlos Queiroz pode recuperar a autoridade num balneário que não tem um líder".
Na opinião de Couceiro, "problemas existem sempre" e "tudo ganha outra proporção quando o resultado não é o esperado". "Se não ganharmos não será um "Saltillo", mas um pequeno "Saltillo"", lança Octávio Machado, com uma lista de críticas. O facto de Queiroz se ter metido com Drogba, de a equipa médica não se ter pronunciado no caso Nani, de Ruben Amorim ter sido chamado ao jogo ("Dá razão aos que diziam que o plantel era desequilibrado. Quer um jogador para mexer o jogo e não tem um Moutinho, um Carlos Martins. O único jogador que mostrou ambição chama-se Coentrão"), de o seleccionador ainda não ter conseguido limpar a FPF. "Se não aparecerem resultados, a comitiva vai rebentar pelas costuras".