A UNESCO suspendeu o prémio que seria atribuído a cientistas que contribuíssem para “melhorar a qualidade da vida humana” financiado e, apropriadamente, baptizado com o nome de um dos mais autoritários e brutais líderes africanos: Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, Presidente da Guiné Equatorial.
Teodoro Obiang Nguema doou três milhões de dólares para criar o prémio (Mike Hutchings/REUTERS)
O anúncio da criação do prémio, através de uma doação de três milhões de dólares da Fundação para a Preservação da Vida Obiang Nguema Mbasogo, suscitou críticas indignadas. Obiang mandou executar o seu antecessor, mas não só: o seu regime é bem conhecido por prisões arbitrárias, tortura de presos políticos, corrupção e verdadeira pilhagem da riqueza petrolífera do país.
Nos últimos 20 anos, o rendimento per capita da Guiné Equatorial subiu 100 vezes, tornando-se o mais alto de África, nota o jornal “The Guardian”. Mas muitos dos 680 mil habitantes sobrevivem com menos de um dólar por dia, abaixo do nível mínimo da pobreza. A esperança de vida é de apenas 49 anos.
Cerca de 279 organizações uniram-se contra a atribuição do prémio, incluindo a Human Rights Watch. O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz, afirmou que a UNESCO estava “a permitir-se polir a reputação pouco recomendável de um ditador” e que o dinheiro oferecido por Obiang para o prémio tinha sido roubado ao povo da Guiné Equatorial.
Até agora, outras nações africanas têm apoiado a entrega do prémio e os Estados Unidos, o maior contribuinte para o orçamento da UNESCO, não tinha levantado objecções. Mas, na segunda-feira, o embaixador norte-americano na UNESCO, David Killion, incentivou este organismo das Nações Unidas a suspender a atribuição do prémio, que deveria distinguir três cientistas anualmente.
Em resposta a este apelo, a directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, disse ao conselho executivo da organização que suspender o prémio era uma medida necessária para o bem da reputação deste organismo. “Ouvir muitos intelectuais, cientistas, jornalistas e claro governos e parlamentos que me apelaram a proteger e preservar o prestígio da organização. Dirijo-me a vós com um forte sentimento de preocupação e ansiedade”, disse, citada num comunicado de imprensa da UNESCO.
Não ficou estabelecida uma data para a atribuição do prémio, mas o tema deve ser discutido na próxima reunião do conselho executivo da UNESCO, em Outubro.